9 de julho de 2013

#7 - Isolamento

Ângelo, 17 anos disse:

Em certos tempos da minha vida, sentia-me bastante confiante em todos os passos que dava. Não temia as minhas decisões, reflectia bastante e tentava agir da melhor forma, sempre. Nunca fui um rapaz de sorte, nunca tive uma vida de sorte, sempre tive problemas a carregar nas costas durante toda infância. Desde problemas financeiros, como familiares, nada muito pouco normal. Até uma certa idade, as coisas são más, mas nunca tão piores quanto começam a parecer. Chega a uma certa altura, em que começamos a dar mais importância aos que pareciam pequenos problemas, e realmente começa-mos a ficar mais preocupados com o que se passa à nossa volta. Felizmente, quando entrei nessa fase, as situações em que a minha família se encontrava, foram melhorando. Tudo graças às forças de vontade de pessoas como a minha mãe, que sempre lutou e que sem dúvida será sempre um orgulho para mim. Acontece que quando entramos numa idade mais complicada, as coisas complicam mesmo. Surgem novos problemas, que nos abalam e desatinam a mente. Com cerca de 12 anos, viveria de uma forma normal, sempre fui um rapaz que facilmente fazia amizades. Não era um jovem infeliz, de todo, apesar de por vezes em conta de pequenos problemas, achar que era uma injustiça do tamanho do mundo. Pequenos problemas que hoje olho para trás, e até dá um pouco de riso relembrar a forma como pensava e reagia a certas coisas, o que é normal. Foram se passando os anos, entrei numa idade, a tão chamada "idade da parvalheira". Nesses tempos fui muito infantil, ao ponto de desiludir toda família com os meus actos infantis e cobardes. Rapidamente após uns anos, encontrei novos caminhos, e aqui estou eu, recuperado da rebeldia que se apoderava do rapaz jovem. Tem um lado da vida, que talvez o que dá mais sentido à mesma, em que eu nunca tive sorte. Estou obviamente a falar do amor. Esse tal de sentimento que é capaz de nos mudar, é capaz de levar-nos a tomar decisões a quais não estávamos preparados, é algo tão poderoso que é capaz de nos conduzir. O que aqui está em questão é mesmo a situação a qual me encontro, que é... Nunca fui rapaz de andar por aí a curtir com raparigas, simplesmente por diversão, não. Não sou totalmente santo, como toda gente, mas não me considero mau rapaz nesse aspecto, já errei muito, mas sempre dei valor às poucas relações que tive. Sou um rapaz sensível, mas muito lutador, paciente e dedicado em agradar e fazer feliz quem está do meu lado. Após mais de um ano sozinho, não esperaria encontrar assim uma rapariga que fosse tomar conta dos meus pensamentos e das minhas decisões. Não foi necessário muito tempo para eu me apaixonar, e de assumir relacionamento. Isto com 16 anos. Fomos ficando muito mais próximos, estudávamos na mesma escola, vivia-mos na mesma terra, portanto ocupávamos o mesmo espaço. Acontece que rapidamente também surgiu um conhecimento mais a fundo acerca da pessoa que me acompanhava, ela era muito diferente. Tinha as suas qualidades que no inicio levaram-me a assumir tal risco, mas depois começaram a surgir os seus muito defeitos. Ela foi muito injusta em todas as suas situações, e foi errando e errando e errando até conseguir destruir a nossa relação, mesmo depois de milhares de oportunidades, mesmo depois de tudo, não mudou, não fez um esforço, no fundo acabei por entender que ela nunca me amou como eu a ela, nunca se dedicou, nunca deu um passo, nunca foi capaz de fazer nada por mim e por nós... Tempos muito difíceis para mim, quando digo muito difíceis, são mesmo muito difíceis. Com isto, mudei muito. Tornei-me uma pessoa mais "fraca", mais sensível, e ao mesmo tempo mais crescida e menos sociável. Não sentia muita vontade de falar com tantas pessoas como antes falava. Com a relação fui deixando de falar com algumas pessoas, mas no fim, no fim eu mudei ainda mais. Fechei-me um pouco. Até que comecei a escrever seriamente acerca de mim, de como estava, do que acontecia, de tudo. Agora com 17 anos, sinto-me um pouco mais leve com a situação da minha ex-namorada. Bastante melhor, apesar de não a ter esquecido. Durante este ano, perdi amizades muito mas muito importantes para mim, porque precisava de atenção e não a vi-a. As pessoas mudam, seguem outros caminhos, conhecem pessoas novas, e realmente esses foram os motivos que levaram a essas pessoas próximas e importantes, se irem embora. Nos últimos meses tenho-me apoiado muito numa pessoa, numa amiga. Uma rapariga extremamente importante para mim, admiro-a bastante, pois ela age de uma forma tão única, ela é sem dúvida especial. Hoje em dia é muito difícil de encontrar mentes jovens assim tão certas e seguras do que querem, das suas decisões e atitudes. Ela tem a cabeça bem sobre os ombros e sabe bem o que quer, e como irá lá chegar, o que é muito bom. Para além de todas as suas qualidades, à sua maneira, tem-me ajudado bastante, ao ponto de facilmente provocar-me um sorriso só com o facto de tirar um pouco do seu tempo e gasta-lo em mim. Até que agora, sinto que até essa pessoa já não o faz mais, está afastar-se, aos poucos, está-se a ir... Já falei com ela, já tentei evitar, mas ela já não é a mesma coisa comigo, e sinto que estou a cair de novo. Estou triste e precisava de escrever isto de uma forma tão aberta como está aqui. Tenho um blog, em que lá escrevo textos, bastante sentidos, mas não tão directos quanto este desabafo. Quero muito acreditar que é normal viver uma fase da vida em que olhamos à volta e não vê-mos nada nem ninguém. Será tão normal assim, sentir que perdemos todo valor e grande força que tínhamos, por pequenos erros...? É muito mau sentir que já não temos valor para as pessoas que mais tem valor para nós, senti-mos como lixo, como apenas mais uma alguém a deixar pegadas por aí...


Other Way Out aconselha:

Olá, Ângelo. Obrigada por teres sido tão sincero na tua questão e teres partilhado a tua história com a nossa comunidade, e quando referimos "nossa comunidade" referimo-nos à equipa que está por trás do blog e aos leitores que têm vindo a apoiar o nosso blog com pouco mais de uma semana.
Antes de mais, achamos que seria importante saberes que os problemas que referes são normais e não te devias preocupar tanto com eles, sabemos que é difícil, mas acredita que o tempo é mesmo um grande curandeiro. Com ele, virão melhores épocas. E claro, há sempre mais alguém que se sente exactamente como tu e/ou até mesmo alguém que já tenha sentido o mesmo e agora se encontre bem melhor. Como vês, há sempre luz no meio da escuridão!
Podes achar que te tornaste numa pessoa mais fraca, não obstante, isso é o que sentes agora. No futuro estarás ainda mais forte, serás uma pessoa mais preparada e consciente, tal como referes, "e ao mesmo tempo mais crescida". Posteriormente, tornarás esta fase numa aprendizagem importante para o teu crescimento.
É normal que com o sucedido, com problemas ainda muito novo - pensares que desiludiste a tua família e mais tarde sofreres por causa de uma rapariga - te tenham tornado mais fechado e menos sociável. Contudo, estás num bom caminho, tens o teu blog que é uma boa forma de socializares com o mundo. Acreditamos que sejas bem-sucedido no teu espaço e/ou que te faz realmente bem à mente. É uma boa maneira de não deixares toda a situação dentro de ti - por vezes, isso pode mesmo ser o pior. Como tal, e se te sentes bem a fazê-lo, deves continuar sempre a explorar o teu lado mais criativo e partilhar o que te vai alma. Liberta um pouco, não é verdade?
Em relação à nova rapariga, tens de pensar bem nas hipóteses para que ela se esteja a afastar.
1- Será que ela se está mesmo a afastar ou é apenas a tua perspectiva da situação?
2- Se ela realmente se está a afastar... Quais os motivos? Pode haver algo por trás - não tem que estar necessariamente relacionado contigo.
3- Pensa por ti e pelo que conheces dela, possíveis hipóteses e não tenhas medo de "investigar", com calma, dando-lhe espaço.
Deves perspectivar de modos diferentes perante as situações. Como tal, não penses que por algumas pessoas se terem afastado de ti que será sempre assim, tens de ter uma mente livre e tentar afastar essas expectativas quando conheces alguém. Se te libertares dessas expectativas concebidas, serás mais facilmente surpreendido (e pela positiva!). É normal que, por agora, não te pareça possível de abandonar, mas acredita que é. Com o decorrer do tempo, conseguirás libertar-te mais se trabalhares nesse sentido.
Respondendo directamente às tuas questões: "será tão normal assim, sentir que perdemos todo o valor e grande força que tínhamos, por pequenos erros...?" A resposta é sim, é muito normal, em qualquer idade. Quanto mais novo, mais rápido se esquecem os "pequenos erros", mas quando se está na adolescência todas as pequenas coisas se tornam enormes e tudo começa a tomar outra importância, as pessoas criam expectativas em relação a ti e tu só pensas em como não as podes desiludir. É super normal! Ainda assim, tu contínuas a ser um ser humano! Podes errar, tens o direito de errar. Deves, então, tentar aprender com esses pequenos erros nem que seja preciso caíres nele uma, duas, três vezes mas aprende com eles! Tira uma moral de tudo o que a vida te têm vindo a ensinar e não te esqueças que a nossa sorte somos nós que a fazemos! Também colocaste a questão: "é muito mau sentir que já não temos valor para as pessoas que mais tem valor para nós, sentirmos como lixo, como apenas mais uma alguém a deixar pegadas por aí...?" Se é muito mau? Sim! Se é normal? Sim, também o é! Não deves sentir que não tens valor, pensa nas coisas boas que fazes e naquilo que és: "sensível mas muito lutador, paciente, dedicado em agradar e fazer feliz quem está do teu lado". Defeitos toda a gente tem. Erros toda a gente comete. E com eles, podes sempre tentar melhorar e/ou aprender com eles. No entanto, tu és muito mais do que isso! Dá mais valor aquilo que és - há em ti muito mais do que julgas. Tens de avaliar-te melhor - conheceres melhor quem és, apreciares melhor as qualidades que tens.
E relembra a ti mesmo que a quantidade de amigos não é importante, é sim a qualidade! Com o tempo as coisas vão melhorar e terás a teu lado as pessoas que realmente merecem estar, porque essas permanecem sempre. Estão a teu lado - aceitam-te tal como tu tens de te aceitar. Acima de tudo, pensa mais em ti. Luta por ti, pela tua felicidade, pelas tuas amizades, por aquilo que te faz bem. Se há uma coisa que o ser humano é muito capaz é de ir buscar força mesmo quando parece que já não a tem. Sim, há força em ti. Usa-a, e vive!

A comunidade OWO deseja-te boa sorte (não te esqueças que a sorte és tu que a fazes), assim como espera ter conseguido ajudar-te no melhor possível. Obrigada pela tua questão!

#7 - Partilha a tua experiência com o Ângelo e com a comunidade! :)

2 comentários:

  1. perdi a conta das vezes que me senti, mas tambem perdi a noção das vezes em que descobri que não estava sozinha. com o tempo a tua vida muda

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